quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Equívoco do Novo Urbanismo


            Vendido como a redenção das cidades, o Novo Urbanismo chega com força aos países emergentes, viciados em problemas urbanos e ávidos pela redenção de seus modelos urbanos. Mas de onde vem o Novo Urbanismo? Qual sua proposta e aplicação?
            Comum às cidades americanas, o deslocamento de pessoas dos subúrbios para a área central, onde normalmente localizam-se o trabalho, comércio e serviços em geral, é um insustentável modelo urbanístico, baseado na individualidade do automóvel. Surgido na década de 80, o Novo Urbanismo aparece como uma resposta a isso, buscando uma mistura funcional dentro dos bairros periféricos, tanto de usos como de classes sociais.
            O Novo Urbanismo preza pela vida comunitária e, principalmente, pela valorização dos pedestres. Visa à criação de calçadas mais largas e ciclovias, além de praças e áreas públicas para maior aproximação da comunidade. Isso junta-se à multiplicidade de usos e serviços nas próprias comunidades – e não apenas na área central – o que garante a diminuição do uso de veículos particulares, além de oferecer sustentabilidade e melhor qualidade de vida à população, que não precisa desperdiçar horas de seus corridos dias em enormes engarrafamentos.
            Seus conceitos, em teoria, funcionam bem e parecem nos levar a uma cidade funcionalmente organizada e sustentável. O principal problema ocorre quando eles passam da teoria para a prática: revela-se nesse ponto a grande dificuldade para sua implantação. A mistura de classes sociais desejada acaba tornando-se utópica, visto que as cidades moldadas pelo Novo Urbanismo tendem ao elitismo imobiliário. A segregação substitui a inclusão.
            Se ao Novo Urbanismo relega-se o sonho utópico, o mesmo ocorre com outras teorias que ao longo dos últimos dois séculos tentaram organizar e tornar funcionalmente racional as cidades. O Urbanismo Moderno de Le Corbusier é exemplo simbólico disto: a organização setorizada das cidades mostra-se pouco eficiente, os grandes espaços públicos são enormes e totalmente fora de escala ao uso humano, as grandes avenidas são ano após ano insuficientes para darem vazão ao sempre crescente número de automóveis particulares, e o mais radical de todos: a cidade moderna idealizada por alguns de seus pensadores é fruto de rompimento total com o passado, propondo por vezes a total demolição da memória arquitetônica construída.
            Apesar de mais antigas, as Cidades Jardins aproximam-se do Urbanismo Moderno, de certa forma opondo-se ao Novo Urbanismo. Em teoria, a separação entre área residencial e serviços, geralmente por cinturões verdes, é de bom grado, buscando uma convivência harmoniosa entre cidade e campo; resposta ao problema das superlotadas e poluídas cidades industriais. Há uma enfática setorização da cidade oposta às propostas de multiplicidade de usos – os chamados “centros de bairro” – anteriormente citadas. No entanto, a Cidade Jardim aplicada normalmente apresenta distorções relacionadas à ocupação dos lotes e densidade populacional, permitindo o desenvolvimento de uma cidade menos rígida e mais condizente com a nossa realidade.
            E se ao longo do século todas estas teorias mostraram-se falhas, o que se produz hoje na política de gestão, planejamento e expansão de cidades? O Urbanismo Contemporâneo, assim denominado por não ter nome mais preciso, visto não possuir uma corrente clara. Baseia-se no incentivo à vida sustentável e à pedonalidade, e nos poucos deslocamentos feitos nos bairros, por meio de calçadas, vias, mobiliários e paisagismo cada vez mais qualificados e incentivadores da vida fora dos automóveis. É cada vez mais comum nas cidades atuais a integração racional dos sistemas de transportes, encabeçada pelo transporte de trilhos, como metrô, vlt's ou trens, mas com presença também de ônibus tradicionais, ou dos chamados brt's. A racionalidade do transporte com sua integração física e tributária são peças chaves na cidade pensada no Século XXI. Estão na pauta dos gestores públicos as revitalizações de áreas degradadas, numa antítese ao que o modernismo pregava; zonas portuárias e centros históricos são pequenos diamantes esperando para serem lapidados, e não derrubados.
            A responsabilidade social das cidades também é alvo de preocupações, quase inéditas. É lugar comum a necessidade da inclusão do enorme contingente humano marginalizado em comunidades irregulares ao tecido da cidade formal, num pensamento diretamente oposto ao empregado no Brasil do Século XX, onde o “higienismo” de derrubar os morros encaixados às zonas nobres e o envio de toda população para subúrbios distantes estavam em voga.
            Ao contrário do que a publicidade imobiliária insiste em vender, o Novo Urbanismo é uma bem intencionada forma de pensar cidade, mas importada de modo a coincidir com respostas necessárias às nossas cidades. Entretanto, seu uso teórico é diferente e utópico do que o país mais precisa: cidades realmente justas e sustentáveis.

Aluna: Ranielen Caetano Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário