quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Espaço e sociedade

O urbanismo é um campo voltado ao ordenamento da cidade para alcançar uma melhor qualidade de vida para a população, surgindo no final do século XIX com a necessidade do planejamento e solução de cidades que sofriam com o aumento de população e que por conseqüência traziam más condições de vida para todos pela falta de organização. Através desta ciência, estudiosos e teóricos buscam uma cidade ideal, planejada de maneira que cumpra com suas funções sociais mediante princípios pré-estabelecidos. Entretanto, com o passar do tempo, o Urbanismo ultrapassou a esfera do ordenamento morfológico cabível a somente a arquitetos e urbanistas, abraçando também o campo da comunidade, que tem o papel primordial no planejamento da cidade, pois esta reflete o estado da sociedade nela expressa. O espaço urbano é resultado da sociedade que a cria e que a transforma a cada momento. A população deve estar envolvida energicamente nas questões de planejamento de suas cidades, pois o resultado vem para elas mesmas, não deixando somente nas decisões políticas que muitas vezes só vêem os seus interesses, como aconteceu em Nova York nos anos 30. Sem pensar na população, Robert Moses passou por cima de muitas construções para construir uma grande estrada que cortava Nova York, o que traria muitos benefícios econômicos na época, em detrimento da história das pessoas que foram retiradas do seu local sem nenhum respeito. O mesmo aconteceu aqui no Brasil, na década de 90, quando houve um projeto de revitalização do Centro Histórico de Salvador, o Pelourinho, onde as pessoas tiveram que deixar suas residências para transformá-las num espaço comercial, o que atrairia muitos turistas e aumentaria a economia e renome do local. Isso realmente aconteceu, economicamente as duas intervenções deram certo, pois Nova York seria um caos sem a estrada de Moses e o Pelourinho seria uma área cristalizada, sem chances de atrair mais turistas. Mas e todas as pessoas que tiveram que deixar suas casas em nome do progresso? Com certeza elas não ficaram satisfeitas em ter que deixar suas raízes forçadamente, o que é bastante entendível. Há sempre os dois lados da moeda, nem sempre todos sairão satisfeitos com as escolhas, por isso, é primordial que o maior número de pessoas, de diversos segmentos da sociedade, estejam envolvidos no planejamento para que seja mais fácil agradar majoritariamente a população. A produção do espaço urbano está em permanente transformação. O urbanista tem que ser capaz de formular cenários futuros sobre o espaço urbano, de modo a conseguir criar as melhores condições de vida nas cidades em parceria com o interesse da população, o que vai criar a paisagem urbana. Porém, poucas cidades brasileiras estão efetivamente empenhadas na recuperação das condições de vida urbana e um dos raros exemplos é Curitiba. Desde os anos 70, a capital paranaense mantém um processo de planejamento consistente. De maneira incipiente, outras metrópoles também se mostram alertas para a necessidade de combater seus problemas urbanísticos de acordo com os desejos e necessidades de suas populações. Deve-se abraçar o planejamento urbano e regional, habitação, gestão urbana, transporte público, estudos ambientais, desenvolvimento de comunidades, não se prendendo a aspectos puramente físico-territoriais ou estético-funcionais, pois o planejamento ultrapassa esses aspectos, necessitando dar atenção para as questões não somente econômicas, mas principalmente sociais.




Thaís de Aguiar Corrêa

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